Há algum tempo venho pensando em escrever sobre relacionamentos abusivos.
Confesso que necessitei um pouco de pesquisas, assisti a alguns documentários sobre o tema até sentir segurança para falar sobre um assunto tão sério, delicado, complexo, repleto de sentimentos que tangem à co-dependência, ao medo constante e ao contraditório sentimento de ódio, ¨amor¨ e defesa da vítima pelo algoz.
As relações abusivas vêm recheadas de humilhação, ignorância, falta de incentivo, cobrança, privação e ciúme exagerado.
Se ainda não há diálogo sobre nenhum desses tópicos, pior. E percebi que, de fato, não há diálogo, assim como quase a totalidade das vítimas são as mulheres.
Talvez seja surpresa para alguns, mas o abuso não é apenas físico. Observei que em algumas relações extremamente abusivas não havia agressão física. É, caros leitores, a questão vai muito mais além.
Nos meus estudos sobre o assunto descobri que a forma mais comum de violência nas relações é a Psicológica. Em um depoimento, uma mulher definiu bem esse tipo de abuso. Segundo ela, a impressão que tinha era de que nunca fazia nada certo. Que no final era convencida de que a grande culpada por tudo era ela (ainda que não entendesse o porquê).
Aqui, deixo uma reflexão de uma frase de Aristóteles.
¨O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.¨
É mais do que comum pensarmos: Afinal, por que a mulher simplesmente não abandona este relacionamento? Oras, não é tão simples assim. E jamais devemos julga-la por não fazê-lo.
Observei também que essas mulheres quando alcançam o sucesso ou se destacam de alguma forma são podadas imediatamente pelos seus parceiros inseguros que têm como meta deixá-las sem autoconfiança, autoestima e quaisquer tipos de empoderamento. E, sim, elas acreditam que são burras e incompetentes.
Não raras são as mulheres induzidas através de um abuso mental a se convencerem de que estão loucas (o que “dá” ao agressor o dever e direito de controlá-las). Esses homens são capazes de distorcer fatos, omitir situações e criar um caos mental que leva a vítima a questionar seus pensamentos, memórias e até mesmo a sua sanidade. E esse tipo de abuso tem até nome: “gaslighting”.
Escrever esse texto é como tomar vários socos no estômago. Trata-se de algo desumano, cruel, inadmissível. É possível colocar-me no lugar delas e sentir um desespero aliado ao medo, pavor e sensação de impotência.
Assisti a relatos de mulheres que vivem uma vida de “participante única de um BBB” cujo espectador é o marido. Além de serem ¨vigiadas¨ todo o tempo, têm os celulares confiscados, senhas compartilhadas e não desfrutam da sua individualidade (nem sequer a tem). Na visão do agressor, as amigas não são boas influências e a família também não. Essas mulheres são privadas de tudo e afastadas de todos através de um comportamento obsessivo de seus agressores.
Elas perderam a identidade. Perderam-na ou, inconscientemente, permitiram que lhes fosse roubada.
Por vingança, muitas vezes têm a sua intimidade exposta em redes sociais ou eventos sociais, o que também caracteriza violência moral. Um outro ponto muito comum que me chamou a atenção é que não é só forçar o sexo que consta como violência sexual. Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa, como a realização de fetiches, também é violência.
Mais uma vez sinto os socos no estômago.
Alguns homens também controlam o dinheiro da mulher (contra a vontade dela), chegam a guardar/ esconder documentos pessoais. E isso tem um nome: violência patrimonial.
Conclui, pois, que a violência contra a mulher vai muito além de agressões físicas.
O homem quando se arma até os dentes para agredir uma mulher só me passa uma imagem: de um ser covarde, um fraco, mal resolvido e cruel.
O intuito deste artigo é conscientizar às mulheres e a toda a sociedade que existem vários tipos de abuso.
Talvez estejamos sofrendo algum deles e não temos consciência.
Precisamos identificar esses comportamentos e nos impor.
Acreditar em mudanças por parte desses agressores é utopia. Prometem uma vida diferente, porém cedo ou tarde voltam com as agressões. Sabemos que dizer NÃO é difícil (tamanha a capacidade de manipulação dos algozes). Mas é preciso coragem para fazê-lo.
Que todas as Mulheres, não só hoje mas todos os dias, sejamos livres de quaisquer tipos de violência, abuso e agressão, que não nos sejam negados o direito a vida. Que sejamos associadas ao respeito, a dignidade, a gratidão e ao amor.
Mulheres, vamos desconfiar quando a oferta é demais. Quando o mel é excessivo. O equilíbrio sempre é a melhor das opções; a mais saudável.
Penso que amor com violência é algo patológico. A linha entre o amor e o ódio é tênue. E, esse ódio é sentença de morte.
Lamentavelmente, no nosso país o índice de feminicídio está só aumentando.
Temos sim que pedir ajuda, denunciar as agressões!
Ainda que ele bata, esmurre, humilhe e depois fale que ama, finja arrependimento; não podemos cair neste ciclo vicioso que vem culminando em mortes estúpidas.
O homicida não vê a hora de dar o bote fatal.
¨Em briga de marido e mulher se mete a colher SIM!¨
Denunciemos!
Ligue 180 e evite mais um feminicídio!
Não vamos nos calar! A boa notícia é que não estamos sozinhas!
¨De todos os atos de covardia a violência contra a mulher reduz o indivíduo ao mais baixo dos seres!¨
Gratidão e estou à disposição de vocês!
Abraços!
Até breve, caros leitores!
Até muito breve!
Lívia Baêta