Semana de Conscientização do Autismo em Congonhas

Semana de Conscientização do Autismo em Congonhas

Spread the love

A Prefeitura de Congonhas, por meio da Secretaria de Educação, instituiu a Lei Municipal nº 3.983 sobre a Semana de Conscientização do Autismo.

Amanda do Prado Morais Pires, médica da Atenção Primária de Saúde de Congonhas e mãe de autista, nos enviou este texto para que todos possam conhecer “O que é o autismo”.

Vamos falar sobre autismo?

Dois de abril é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Uma das formas para dar visibilidade ao tema, desmistificar preconceitos e capacitismos contra pessoas com autismo, aprimorar as relações sociais quanto ao tema, além de mobilizar a sociedade. Assim, trazemos o texto abaixo da doutora Amanda do Prado Morais Pires, médica da Atenção Primária de Saúde de Congonhas e também mãe de autista:

OLHANDO NOS OLHOS DO AUTISMO

“Ele(a) nem parece autista!”; “Todo mundo é um pouco autista.”; “Ele(a) não é autista, porque conheço um autista e é totalmente diferente…”; “autismo”. Provavelmente você ouviu – ou mesmo disse – uma ou mais dessas frases!

Segundo dados do Center of Deseases Control and Prevention – CDC, órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe, hoje, um caso de autismo a cada 110 pessoas. Dessa forma, estima-se que o Brasil, com seus aproximadamente 210 milhões de habitantes, possua cerca de 2 milhões de autistas. (fonte: http://www.usp.br/espacoaberto/…). Considerando-se esses dados, você com certeza convive com pessoas autistas e, por mais estranho que possa parecer, talvez você seja um autista. Então, o que é autismo?

A sigla TEA – Transtorno do Espectro do AUTISMO, já nos traz algumas informações:

– Transtorno: o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento (isso significa que o autismo não é um problema psicológico, nem tampouco um erro de criação ou de educação);

– do Espectro: significa que não se trata de uma condição rígida, de manifestação única, mas que pode se apresentar de várias formas e intensidades. Para explicar melhor: considerando o autismo como a cor cinza, um cinza claro, quase branco, seria autismo, tanto quando um cinza escuro, quase preto. Cada autista é único. Então, se você conhece bem um autista, você conhece bem aquele autista; não todos os outros, como alguns pensam.

– do Autismo (repare que não é “transtorno no espectro AUTISTA”, como costumamos ouvir por aí, uma vez que não é o espectro que é autista; mas sim o indivíduo que apresenta o transtorno)

Quando suspeitar de que alguém pode ser autista?

Primeiramente, é importante falar sobre a importância do acompanhamento do desenvolvimento das crianças, o que é feito na puericultura. Existem o que chamamos de “marcos do desenvolvimento”, ou seja, as habilidades que toda criança deve ter desenvolvido até certa idade. Todo atraso deve ser investigado, sem demora. Frases como “cada um tem seu tempo” podem atrasar o diagnóstico não apenas do autismo, mas de outros transtornos e doenças.

De acordo com os critérios diagnósticos atuais, para que alguém receba o diagnóstico de autismo, esse indivíduo precisa apresentar alterações em duas grandes áreas:

– COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO SOCIAL (atrasos de fala, dificuldades em se expressar ou compreender as outras pessoas, dificuldade com sentido figurado, não saber como se comportar nas diferentes situações, não se sentir bem entre pessoas, desconforto em olhar as pessoas nos olhos, dificuldade em compreender os sentimentos das outras pessoas e de perceber o impacto que suas atitudes ou palavras podem causar no outro etc);

– PADRÕES DE COMPORTAMENTO RESTRITOS, REPETITIVOS E ESTEREOTIPADOS (interesse fixo em certos objetos, cores, assuntos e movimentos repetitivos, como balançar para frente e para trás, repetir frases etc).

Um detalhe, apesar de não ser necessário para o diagnóstico, cerca de 90% dos indivíduos com TEA apresentam alterações sensoriais, ou seja, apresentam alterações nos sentidos, o que podemos perceber por intolerância a ruídos intensos ou a luz forte, seletividade alimentar, dificuldade em manter o equilíbrio etc. Essas alterações podem ser tanto uma sensibilidade aumentada quanto diminuída em cada um dos sentidos. Isso pode tornar certos ambientes, literalmente, insuportáveis para um autista.

Imagine, por exemplo, o que sente uma criança autista durante um recreio na escola, com um monte de crianças correndo e gritando desordenadamente. Muitos dos comportamentos “estranhos” que incomodam os observadores leigos tratam-se de tentativas de se organizar para conseguir lidar melhor com tantas sensações, difíceis de explicar.

Por que é importante ter o diagnóstico de autismo?

É comum ouvirmos que pais ou pessoas adultas que suspeitam de autismo foram aconselhadas a “deixar isso pra lá” porque já que a pessoa chegou até essa fase da vida sem o diagnóstico ou, já que a criança “nem parece ter um problema” e “é tão inteligente”, não valeria a pena receber um diagnóstico estigmatizante como esse.

Receber um diagnóstico de TEA pode ser doloroso para os pais, por exemplo, mas pode ser libertador para um adolescente ou adulto que tenha sofrido ao longo de toda a vida sem compreender a razão, que tenha recebido diagnósticos e tratamentos inadequados, sem sucesso, ou mesmo para pais que percebiam que havia algo de errado com sua criança, enquanto todos diziam que estava tudo normal.

Para tratar, é preciso diagnosticar. Para usufruir dos direitos, é preciso uma comprovação da doença. E é importante ressaltar que o resultado do tratamento sobre essas pessoas depende muito da precocidade das intervenções, ou seja: quanto mais cedo, mais intenso, mais direcionado for o tratamento, menor será a dependência dessa pessoa no futuro. Isso acontece porque a neuroplasticidade (a capacidade de o cérebro formar novas conexões, ou seja, nossa capacidade de aprender) diminui naturalmente com o passar do tempo.

O autista é capaz de aprender?

O cérebro de um autista funciona de uma forma diferente das pessoas neurotípicas (com neurodesenvolvimento dito “normal”) e a falta de compreensão disso pode levar a conclusões erradas como “autista não aprende”, “autista não fala”, “autista não gosta de estar com outras pessoas”, “autista não tem sentimentos” etc.

Como se aprende qualquer coisa? Basicamente, aprendemos observando e imitando os outros. Aprendemos a falar, a andar, a nos comportar, a escrever e tudo o mais dessa maneira, de uma forma geral. O cérebro de um indivíduo neurotípico é naturalmente voltado para as outras pessoas (ou seja, quando ele chega em um lugar, sua atenção naturalmente se volta para as outras pessoas no mesmo ambiente), enquanto que o cérebro de um indivíduo com TEA é mais “interessado”, por assim dizer, nos objetos, por exemplo. Logo, para ensinar alguém com TEA, essa pessoa tem que se tornar muito mais interessante do que o foco de atenção do autista, a fim de conseguir a ATENÇÃO, o OLHAR e a IMITAÇÃO e, como resultado de tudo isso, a APRENDIZAGEM.

O que acontece, muitas vezes, é que quando o autista não corresponde às tentativas de socialização, ensino e aproximação usuais, os amigos, os professores, e até mesmo a família, acabam desistindo e se conformando com o fato de que aquela pessoa está fadada a ser dependente o resto da vida e que não adianta; “ele(a) é assim mesmo”. Com isso, esse indivíduo pode passar a vida sem atingir seu pleno potencial, perdendo a oportunidade de colaborar com a sociedade e de ter uma vida funcional e independente.

Autismo tem cura?

Dito isso, o que concluímos é que a “solução” para o autismo é a busca pela compreensão e entendimento, a empatia, o amor e o interesse sinceros. É respeitar o jeito, os sentimentos e as diferenças do outro, sem julgar, sem limitar. É incluir de verdade e aceitar algumas alterações no mundo como conhecemos para torná-lo mais atraente, acolhedor, para que cada autista tenha o desejo de fazer parte dele. Os autistas funcionam muito bem, cada um do seu jeito. Um autista, mesmo que atinja todo o seu potencial e tenha uma vida produtiva e independente, continuará sendo autista.

Mas afinal, o autismo não precisa de cura; quem precisa de cura é a nossa sociedade!

Encerro minha fala com uma música que retrata o sentimento do autista. Espero que esse texto, ainda que incompleto, o tenha ajudado a compreender os sentimentos dos autistas e a ter um outro olhar sobre o autismo. Afinal, compartilhamos esse mundo, todos nós merecemos estar e nos sentir bem dentro dele!


Spread the love

Deixe um comentário