Quem se lembra da cena em que a professora de português explica: “Podem ter 100 meninas e apenas 1 menino, sempre vamos nos referir no termo masculino”? A minha reação foi de extrema revolta, e eu ainda pensei: – Poxa professora, da uma força pra gente, você também é mulher. – E foi aí que as reflexões em mim se despertaram.
Para iniciarmos essa conversa, e essa série que trará mulheres importantes, que algumas vezes passam despercebidas aos nossos olhos, vamos ressaltar que a vida começa da mulher e que menos valorizado que isso somente a vida que começa se mantem e termina na costa de uma mulher específica: A mulher preta. A maioria das mulheres violentadas e mortas, são mulheres negras, são também a maioria nos índices de baixa escolaridade, maioria como mães solo e as que possuem menos oportunidades e perspectivas de vida.
Você provavelmente já ouviu o termo “A solidão da mulher negra”, se ainda não ouviu… Realmente, há coisas que somente quem sofre na pele pode te explicar, e a minha dica é, dê ouvidos, voz e espaço a essa mulher ao seu redor. O mais curioso é que mesmo esse espaço sendo conquistado pouco a pouco, ainda assim há uma questão a ser levantada, pois a afro mulher não quer ser lembrada na dor. Essas mulheres precisam de espaço nas revistas, nos jornais – e eu não me refiro ao caderno policial- ela precisa estar na TV, ela não pode mais ser lembrada ou taxada como a mulher violentada, sofrida e feia, precisa ser lembrada também como sinônimo de beleza, riqueza exuberância. Ser médica, ser jornalista, chegar à universidade com a mesma facilidade que os homens brancos chegam. Deixar de ser sinônimo de servidão e começar a dominar o empreendedorismo, meios intelectuais, e poder disfrutar de tudo aquilo que o foi privado durante tanto tempo e ser símbolo da representatividade.
Falando em representatividade, solidão e beleza, alguma mulher negra que me lê nesse momento já passou por algumas situações abaixo?
Sonhar em ser modelo, atriz, cantora, e ver que não tem o “perfil” estabelecido e desistir ali mesmo? Às vezes nem tentar?
Ser conhecida como a amiga da branca bonita, mas nunca ser reconhecida pela própria beleza e características, e ficar de lado em diversas situações?
Ouvir dizer que se você fosse mais “clarinha” até que seria mais bonita, ou algo semelhante com seu cabelo?
E as mães? Quantas vezes foram questionadas sobre a paternidade de seus filhos? Paternidade essa que muitas vezes foi escorada com o termo “Pãe” que representa mais do que tudo a frase “mulher guerreira” guerreira essa por obrigação, porém exausta e frustrada vendo sonhos passarem aos olhos, mas não aguentar correr atrás, pois tudo isso pesa demais.
Espantados(as)? O que me espanta é eu conseguir falar sobre isso agora, pra algumas pessoas que irão me acompanhar, outras vão revirar os olhos e algumas se sentirão interessadas, mas com certeza vão dar prioridade a uma blogueragem fútil qualquer. Já escrevi muitas coisas, fui desestimulada centenas de vezes, e ao longo de 22 anos me pego pensando várias vezes – Será que hoje eu sou privilegiada por nunca ter trabalhado em casa de família, por exemplo, ou o fato de uma oportunidade ter surgido tão tardia (sim, pois eu escrevo, e escrevo coisas e mais coisas desde os 13) tem muito a ver com a minha pele e gênero? Há tipos de coisas que uma mulher branca não passa e não vai passar. Sabemos que isso é o peso a mais que está naquela bagagem pesadíssima que toda mulher trás, mas que só as negras são obrigadas a carregar.
Ah…, mas qual o objetivo da coluna? Ué, o objetivo e dar espaço para uma mulher, mostrar outras que fazem o papel magnifico de nos representar e evidenciar nossos passos até aqui, que servirão de motivação a outras, e outras e assim transmitir o conceito de empoderamento, de representatividade e força feminina, mostrando toda a luta e os propósitos dela. E se você pensa que na nossa cidade não há muitas mulheres assim, está cometendo um equívoco e nesse espaço vamos conhecer muitas delas e um pouco de suas histórias.
Bárbara Duarte
Colaboradora do Minas Informa
Graduanda em Pedagodia
Instagram: @bar_baraduarte