Caro leitor, cara leitora, você provavelmente já ouviu o termo: “Isso é coisa de preto”. Na escola, ouvia muito dizer que coisa de preta era fazer barraco, falar gritando, ser mal educada, agir com vandalismo e até mesmo a falta de asseio, e isso sempre me deixou muito constrangida.
Desde muito pequena, sempre tive muito medo de ser confundida ou apontada como uma infratora ou atémesmo criminosa, pois, esse termo também é associado àcriminalidade, e a minha pele preta se arrepiava e arrepia até hoje com medo desse julgamento.
Uma coisa que deixa um certo nó na garganta é ver que muitas pessoas negras também reproduzem essa fala de peso hostil e extremamente racista, pois foi condicionado a isso durante toda sua vida.
Agora vamos pensar: O que de fato é “coisa de preta”?
Essa semana vou falar da Thamirise a Dona Maria, mulheres pretas, neta e avó que transmitem o conhecimento advindo das experiências e vivências da vida. É evidente a inspiração e admiração da Thamirispela vó, que é mãe, costureira, cozinheira, artesã, provida da criatividade, força e amor pela família. E foi delas que surgiu uma nova ressignificação para esse termo.
A lojinha virtual/projeto Coisa de Preta, de conjuntos de máscaras e turbantes, busca reforçar a identidade da mulher negra e ao mesmo tempo fornece cuidadoe proteção nesse período atípico que estamos vivenciando.
Os turbantes têm sua marca e importância na construção histórica da afro mulher, e com a falta de representatividade, havia uma certa necessidade de mostrar para outras pessoas o que realmente é coisa de preta. O cabelo afro incomoda muitas pessoas pelo preconceito e pela falsa idealização de um cabelo feio, sujo, impermeável, até mesmo transmissor de doenças.
Muitas mulheres já se sentiram obrigadas a alisar seus cabelos e perderem sua identidade pela opressão da sociedade, e a falta de pertencimento é uma das consequências dessa ditadura.
Por que é tão difícil aceitar a beleza da mulher negra? Muitas vezes os olhares de julgamento a cultura afro, encarceram a visibilidade e mantém pessoas maravilhosas presas aos paradigmas socias.
É bastante visível que as novas gerações estão ensinando, de certa forma a valorização da cultura afro brasileira às gerações anteriores, que não tinham o mesmo olhar para coisas tão específicas e importantes para todos nós.
Da mesma forma em que, aprendemos muito com as nossas mães e avós, podemos mostrá-las o quão oprimida já fomos e que não precisamos nos esconder e nem nos encaixar nos padrões euro centralizados, e que também construímos grande parte da história com nossas próprias histórias. E foi assim que a Dona Maria conseguiu enxergar a beleza dos turbantes na neta, que no início queria apenas se proteger e estar bonita, quando pediu para a vó confeccionar o primeiro conjunto com a máscara. De fato, é lindo! E ai foram despertando outros olhares, admiradores, e de forma coletiva, desde a mesa de costura da Maria até o capricho das embalagens feitas pela Thamiris a cada cliente que se sente representada e empoderada com os conjuntos. Além disso, despertar a admiração de outras pessoas reforçando a representatividade; poder também compartilhar com outras mulheres pretas e ver como faz falta achar produtos voltados para nós, principalmente com preço acessível, reforça que a representatividade importa todos os dias e em todos os ambientes.
A partir disso eu consigo definir, hoje o que é coisa de preta: É a força empreendedora dessas mulheres, que buscam dar poder, voz e beleza a outras mulheres, de mostrar sua verdadeira identidade e despertar o olhar crítico a situações de preconceito ao seu redor. Assim como a Maria Vieira, mulher que inspira muitas outras, sem ao menos ter ciência disso, e que consegue confeccionar com as próprias mãos peças lindas para outras mulheres inspiradoras. Assim como a Thamiris, professora em formação, que já consegue nos ensinar que precisamos ter voz e espaço e que somos importantes como um todo. Eu digo que, coisa de preta é lutar pela nossa identidade.
“SE A COISA TA PRETA, A COISA TA BOA”
Bárbara Duarte
Colaboradora do Minas Informa
Graduanda em Pedagogia
Instagram: @bar_baraduarte