Nesta sexta-feira, 19 de junho de 2020, será o grande teste que pode vir a definir se na prática, o recente projeto aprovado em Lafaiete, proibindo o uso de fogos de artifício barulhentos, irá ser respeitado pela população.
Muita gente sabe, que ao longo de décadas, durante e após o ato da Entronização, praticado pelos católicos em Lafaiete, é acompanhado antes, durante e depois por um verdadeiro show pirotécnico. Com fogos ruidosos, outros somente com show de cores e alguns com o som de estremecer o chão.
O projeto foi aprovado pelos vereadores atendendo a um apelo de entidades como Afaupa (Associação de Familiares e Autistas Unidos pelo Autismo), Alpa (Associação Lafaietense de Proteção aos Animais), Amigos Down e Amor Incondicional, visto que são os grupos que mais sofrem com o barulho causado por fogos de artifício.
É sabido que autistas, por exemplo, têm crise de pânico gravíssima com o barulho dos foguetes, assim como algumas crianças, idosos e enfermos, além de trazer transtornos também para os animais.
Em cidades onde o tema já se encontra mais evoluído e conta com a colaboração do povo, até mesmo nas famosas e baladas festas de fim de ano já foram adotados os fogos sem ruído, sem que isto tire a beleza do espetáculo pirotécnico.
Como em Lafaiete e em quase todas as cidades do Brasil, por conta de festas religiosas, jogos de futebol, abertura e encerramento de shows, e até em festas familiares, a soltura de fogos de artifício sempre foi considerada normal e até mesmo esperada, pois se trata de um aspecto que pertence à cultura brasileira.
Mesmo não sendo defensora do politicamente correto (aliás, estou bem longe disto), esta é uma causa que ganhou a minha simpatia. Pensando melhor sobre o assunto, Lafaiete nada tem a perder. Não temos uma fábrica de fogos de artifício, o que poderia ser gerador de renda e empregos. Não temos profissionais que vivem de organizar shows pirotécnicos.
E convenhamos, o tal foguete que faz um barulho estarrecedor, não incomoda somente crianças com qualquer tipo de transtorno, demais crianças, idosos, enfermos e animais. Aquele troço incomoda e assusta quase todo mundo. É bem comum alguém reclamar, durante a inauguração de um posto de saúde, por exemplo, que após tomar aquele susto com o bendito barulho afirmar com suficiente e justificável raiva “que odeia foguetes”. Estou mentindo?????
Portanto, sem querer comprar briga com ninguém, mas sem nenhum pingo de medo se for obrigada a fazer, hoje peço que as pessoas reflitam sobre os fogos de artifício. Será que não está na hora de todos nós darmos um passo à frente?
Eu não tenho filhos. Minha cachorrinha, ao contrário de outros animais, não se incomoda com os foguetes, e os meus pais, que já são idosos, também não dão a miníma para os fogos. À eles, não é imposto nenhum tipo de incômodo. Mas, numa época, onde todo mundo fala demais, está na hora de parar de falar e praticar. Principalmente a tal da empatia. Você não acha?
Acredito que podemos e devemos celebrar tudo na vida. Cada minuto. Cada conquista. Aliás, precisamos até aprender a celebrar nossos momentos ruins também. São estes danados que nos fazem melhor.
Então é isso. Vamos só refletir. Sem pensar muito na lei. Sem pensar em imposições. Vamos só imaginar que o ato de soltar fogos com barulho traz sofrimento a alguém. A uma criança. Aos seus pais, que sem nada para fazer, são obrigados a verem seu filho tendo um ataque de medo. A um senhor ou senhora que poderia ser sua mãe, pai, avô ou avó. Que tem gente lutando para ter alguns minutos de alívio perante a uma dor física, deitado num leito de hospital, que pode ter seu sono interrompido, porque, por hábito, você gosta de soltar um super rojão.
Dá para conciliar. Dá para fazermos (a minha família irá fazer o ato de entronizar e dar aos Sagrados Corações de Jesus e Maria o lugar de maior importância na casa), sem que isto cause qualquer tipo de sofrimento a quem quer que seja. Dá para ter um belo show de luzes. O que eu acho que não é mais necessário, é fazer tanto barulho em nome de quem pregou, acima de tudo, o amor.
Alexsandra Barbosa Gabriel – Jornalista/Portal Lafaiete.