Nos últimos anos, o capitalismo tradicional – que visava o lucro a qualquer custo – deu espaço para um novo modelo de negócio que tem sido o norteador das maiores empresas do mundo: o capitalismo de stakeholder (em que as companhias buscam gerar valor para todas as partes da sociedade).
A sigla ESG (Environmental, Social and Governance) surgiu em uma iniciativa da ONU chamada “Who Care wins” (ganha quem se importa) no qual se estabeleceu a incorporação de diretrizes de sustentabilidade no mercado financeiro.
O ESG envolve todas as métricas que mostram a sustentabilidade da empresa por meio dos seus ativos intangíveis, o que também pode se tornar um critério para os eventuais investidores da empresa.
Na prática, a sigla ESG (do inglês Environmental, Social and Governance), demonstra as iniciativas das empresas nos aspectos ambiental, social e de governança em prol de um desenvolvimento com menos impactos negativos para o meio ambiente, mais positivo para a sociedade e que ajude a tornar a governança corporativa mais responsável e transparente com relação a sua tomada de decisões.
Fundamentada nestes 3 pilares, a sigla busca garantir que o desenvolvimento de uma empresa não seja acompanhado, por exemplo, por trabalho irregular, discriminação social, poluição do meio ambiente, destruição de ecossistemas, fraudes fiscais; mas sim por diversidade, responsabilidade social, gestão de resíduos e impacto positivo na sociedade.
Apesar de ter sido cunhado há quase 20 anos, o termo ganhou notoriedade nos últimos anos devido aos fatores ambientais, como as crises climáticas e o aumento de catástrofes ambientais, e também aos fatores econômicos, como a preferência de clientes e investidores por empresas responsáveis social e ambientalmente.
Para detalhar mais sobre o assunto, a jornalista e colunista do Minas Informa entrevistou Danielle Denes doutora em inovação e sustentabilidade pela Universidade Positivo e pela Universidade de TU Delft na Holanda.
- Como você vê o crescimento do setor de ESG sob o ponto de vista do contexto empresarial brasileiro, considerando os diferentes tipos de empresas? Como essa sigla impacta os negócios?
O que eu percebo é que a demanda pelo tema em aumentado muito. Isso acontece porque conforme as grandes organizações são demandadas por certificações na cadeia produtiva e por métricas de materialidade essa demanda passa também para os fornecedores e os fornecedores dos fornecedores, ou seja, as pequenas e médias empresas de algum modo também estão sendo cada vez mais demandada por essa pauta e a tendência é aumentar ainda mais com a atuação dos índices de sustentabilidade das bolsas de valores, por exemplo.
- Como implementar ESG nas empresas?
A implementação do ESG na empresa começa com uma mudança de mentalidade. A cultura voltada para a sustentabilidade envolve uma clareza sobre o propósito da empresa, sua contribuição para a sociedade, além da incorporação de práticas nas dimensões ambientais, sociais e de governança na estratégia da empresa. Isso abrange a implementação de políticas de inclusão, de um canal de compliance e de um modelo de negócios voltado para minimizar os impactos ambientais. Uma das formas de se incorporar o ESG na estratégia da empresa é por meio da matriz de materialidade, que mostra os temas prioritários da empresa de acordo com as partes interessadas.
- O que faz um profissional de ESG? Quais competências precisam ser desenvolvidas pelos profissionais que desejam atuar como especialistas neste setor?
Antes de mais nada esse profissional precisa ter uma visão ampla de mercado. Saber fazer um bom diagnóstico, identificar as demandas de regulação de mercado. Veja que estamos falando de dimensões complexas do ambiente empresarial, tais como as políticas de governança, responsabilidade ambiental, créditos de carbono, certificações de fair trade e métricas que demonstrem para as partes interessadas que a empresa não pratica greenwashing e leva com seriedade a sua política de sustentabilidade.
- Qual é o ROI do ESG para profissionais, empresas e cidades e regiões?
À medida que a prática do ESG vem amadurecendo e que cada vez mais organizações compreendem a importância desta prática, também aumentam os questionamentos sobre o quanto ao retorno sobre os investimentos realizados em ESG. Em momentos de crise e instabilidade é aconselhável que se busque investimentos em empresas que mitigam os riscos e se comprometem com a sustentabilidade, sendo mais resilientes e, consequentemente, mais seguras em termos de rentabilidade. Mas aqui vale novamente o alerta de comprovação das práticas de ESG, não basta apenas dizer que faz, é necessário provar por meio de materialidade as suas práticas para todas as partes interessadas.
Danielle Denes é doutora em inovação e sustentabilidade pela Universidade Positivo e pela Universidade de TU Delft na Holanda. Também possui pós-doutorado em políticas para inovações sustentáveis pelo Technion em Israel. Atualmente é professora do doutorado em administração da Universidade Positivo em Curitiba.
Atua há mais de 20 anos em planejamento estratégico, pesquisa de mercado e consultoria empresarial com foco em sustentabilidade, tendo desenvolvido projetos de pesquisa para empresas como a Kraft Foods Brasil, Itaipu Binacional, Tecnogran do Brasil e Dtcom.
Por Rafaela Faria