Estou descendo a Escada. Completamente. Vez por outra, em uma inutilidade sem tamanho, um meneio para a leitura. E mais não tem. Não há necessidade nenhuma. Pelo menos uma necessidade nisso tudo. Que fosse comum, tanto quanto ser técnico de futebol, com terno e gravata, em um ponto de ônibus sob uma temperatura de quarenta graus. Estou descendo a Escada. Submetido. Nada é voluntarioso na entrevista toda. As coisas se sucedem e não posso dizer que há gratidão ou afeto pelo caminho. Ao avesso, existe uma presença marcante em ocultar a atrofia vinda do que é inevitável. Ornamentar esse tempo com manto de esperança é, na verdade, um embuste. É embotar a materialidade dos degraus. Nada socorre ficar do lado direito da vida, perder a cor, empalidecer. Ficar do lado esquerdo na mesma vida, ainda não é rima e menos ainda solução. Na verdade, nenhuma rima pode alcançar o ranger da porta. E é assim invariavelmente. O inexorável poder de atordoar a vida da gente vem sabe-se lá de onde. Animar, então, só aparenta um revide áspero do desagrado.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Advogado e Escritor