A Mulher no Bar

A Mulher no Bar

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A solidão me é necessária.Tal como alguns goles d’água ao longo do dia são indispensáveis à saúde, o meu momento de solidão é mister. Um compromisso que tenho comigo e que não cabe mais ninguém.

Interessante ressaltar que esses momentos em que priorizo a intimidade com a solidão acontecem em ambientes vazios ou, paradoxalmente, em locais repletos de pessoas, quiçá multidões.

A solidão e eu somos bem ecléticas. Apreciamos praças, cafeterias, clubes, restaurantes, cinema, teatro, bares e , por muitas vezes, nosso aconchegante sofá azul turquesa.

Eita sociedade machista. Homens e mulheres machistas. Mulher sozinha no balcão ou na mesa do bar? Ah! É puta. Está a caça. Bom, nem sempre. E se for? Está tudo bem.

Parafraseando os Titãs: a gente não quer só comida, a gente (mulher) quer comida (óbvio), uma bebida, um banquinho no bar e o direito de bater um papo com a gente mesma.

Sentamos, lemos, observamos e, com muita frequência, escrevemos ou transcrevemos ( a solidão e eu) os nossos diálogos.

Dentre os ambientes citados para saborear a minha melhor companhia (eu mesma) é fato que os bares são os que mais chamam atenção e geram comentários absurdamente retrógrados. E este é o ponto. Esta é a pauta.

Particularmente, sofro de uma loucura que, para se concretizar, exige a reunião de três coisas que amo fazer: comer/beber, observar e escrever. E neste compromisso, prezados, só eu caibo.

Este texto que você está lendo, caro leitor, teve metalinguísticamente vários trechos rascunhados e registrados em guardanapos.

De volta ao bar. Agrada-me a ideia de realizar esta “loucura” assisada neste cenário. “Oras, moça! Mas uma mulher casada, mãe de dois filhos. Não fica bem. O que haverão de pensar e/ou falar de você?”

Pois muito que bem. Abomino rótulos e padrões. Não me vestem. Sendo assim, a minha resposta aos comentários acima é uma só: ” Eu não me importo. Sou sim, uma mulher casada, mãe, sei a hora de chegar e sair de quaisquer lugares.” Eu tenho esse e muitos outros direitos. Nós, mulheres, temos melhor dizendo. Ah! Eu pago a minha conta, claro. E o preço de estar com a minha solidão; já esse é impagável.
Saio do bar leve e em harmonia comigo mesma.

Eis o “problema” das feministas: ter a coragem de agir, de tomar decisões, sem se considerar propriedade de ninguém.
Ops! Mas há muitos homens no bar. Deveras. Beira uns 95%. Contudo, a minha postura revela que os meus cromossomos X não estão disponíveis ( salvo se eu assim desejasse).

Sim! Quero que o feminismo seja tão forte, intenso, chato até que se torne dispensável.
Perto de completar 40 voltas ao redor do sol, digo com propriedade às mulheres maduras e conscientes: não permitam que o preconceito e os julgamentos as reprimam de exercerem (com total direito) as suas vontades e os seus desejos mais profundos.

Não raro, o medo (que muitos seres humanos têm da solidão) é exatamente uma necessidade de aprender a apreciá – lá ( e apreciar-se) e desvendar um grande mistério: ” Nunca estamos sozinhos quando em dia e em paz com a nossa solidão.”

Seria hipocrisia dizer que sentar ali no bar não me gera desassossego; Cantadas e comentários são frequentes. É o preço. Assim como em muitos lugares. Aqui, ali e acolá nós mulheres pagamos por tantas coisas, sobretudo no “aconchego seguro do lar” tóxico e abusivo.

Findo este texto com uma pergunta seguida da resposta.
-Quem é a mulher sozinha no bar?
-É a mulher sozinha no bar.
E podem apostar, em muitos casos (aqui me incluo) borro meu batom vermelho unicamente com o copo e isso me basta, me preenche: a busca de me aproximar de um ser total, sem limites e sem misérias imateriais.

Paz , Bem & Plenitude!

Lívia Baêta 💫🧿🦋🥂💄✍🏼


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